Seminário Gambiarras poéticas para não faltar conchego

05 out. 2023

0 Seminário Gambiarras poéticas para não faltar conchego, que ocorrerá na sala 702 da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (no edifício Jorge Machado Moreira, Avenida Pedro Calmon, 500 – Cidade Universitária, Ilha do Fundão), no dia 05 de outubro de 2023, entre 13-17hs. O evento está sendo organizado pelo Núcleo de Arte e Novos Organismos (UFRJ) em parceria com o Laboratório de Investigação em Corpo, Comunicação e Arte (LICCA) da Universidade Federal do Ceará. A Comissão Organizadora é formada pela Profa. Dra. Maria Luiza (Malu) Fragoso (PPGAV-UFRJ), pelo Prof. Dr. Antônio Wellington de Oliveira Júnior (PPGARTES-UFC) e pelo Prof. Me. Gleydson Silva Moreira (PPGAV-UFRJ). Esperamos contar com sua participação. O Evento tem o seguinte tema:


Gambiarras poéticas para não faltar conchego trata das poéticas, políticas e manifestações culturais regionais, em específico a cearense, com base na pesquisa realizada durante o doutoramento de Gleydson Silva Moreira, e desenvolvidas no núcleo laboratorial LICCA. "O lugar onde conchego-me é o Ceará, pelo menos é a principal localidade onde isso acontece. Seja pelos sotaques, folclores, culinária, histórias, poesias, artes, artistas, culturas e tantos outros elementos que formam o que sou e inflamam-me a defender as diversidades e as complexidades. Para tanto, como sou pesquisador, faço uso do mundo como laboratório para recriar esse conchego e oferecer em artes. Por isso, o conchego é o que espero criar ou expressar, esse é o resultado da iniciativa de querer abraçar as pessoas com a arte. Esses aspectos cearenses, em artes ou não, e muitos outros tocam-me e abrigam-me como as faixas de areia no começo do mar, por mais movediças que elas sejam, servem em certa medida de lugar de encontro, apoio e impulsos. É insegurança e segurança em revezamento a cada nova onda capaz de revirar a praia.”

Morar em outra cidade forçou Gleydson Silva Moreira a construir novas relações com sentidos e reflexões de pertencimento e lugar de fala, porém, essas não eram discussões essenciais em seus textos e experimentações. A resposta, ainda turva, veio com a performance artística Paraíba de Sorte realizada em 2019 no Museu da República (Palácio do Catete) no Rio de Janeiro. Essa ação é uma resposta ao desconforto, a indignação e o medo sentidos em algumas situações relacionadas a percepção do outro da origem nordestina do artista. Momentos como caretas ao falar de onde é, "piadas" com o sotaque, tentativas de levar vantagem e outras atitudes xenofóbicas, o desconforto cresceu com cada violência sofrida ou convivida nos primeiros meses da mudança. Entretanto, entre pensar a performance artística e realizar, algo mudou. Saiu de casa com uma plaquinha com o título do trabalho e dezenas de raspadinhas premiadas para distribuir como forma de protesto, mas percebeu-se com vontade de construir pontes e abraçar as pessoas. Quem aceitou receber a raspadinha, após ouvir o desejo de um bom dia feito pelo artista, podia revelar o mapa do Nordeste com cada estado nomeado e o estado da Paraíba em destaque. Essa foi uma tentativa irônica de ensinar geografia aos intolerantes, enraizados na prática de utilizar a palavra paraíba de forma pejorativa. Essa ação proporcionou momentos bons e ruins de ocupação da nova cidade.

Isso ajudou na percepção da falta de aconchego como um problema. O artista, então, começa a criar, a refletir e a pesquisar como isso também podia ser percebido nos processos artísticos, na história do estado do Ceará e na cultura cearense. Assim, percebe movimentos históricos de busca do território cearense como refúgio por povos originários, pessoas escravizadas e judeus, por exemplo. Porém, essas e as demais pessoas em busca de uma vida melhor, passam a conviver com a fome, a misoginia, as secas, as perseguições religiosas, a desigualdade social e tantas outras violências. Portanto, concluiu o estado como um refúgio doloroso e a falta ou a dificuldade de ter aconchego como um dos pilares da formação da sociedade cearense.

Em bom tom com a gaitice cearense, o artista decidiu, por conta própria, aproveitar-se da palavra conchego. Muito mais conchegante, segundo o artista. Assim, passa a atribuir uma diferença entre aconchego e conchego não encontrada nos dicionários. Então, o conchego passa a ser o termo utilizado por ele para o aconchego construído em contextos de adversidade, ou seja, quando pensamos não ser possível estabelecer esses momentos de respiro da alma ou quando as pessoas negam-se a viver sem ele.